Da nossa última aula com a Profª Bonilla (03/04/2012) saí bastante pensativo. Triste na verdade.
Discutíamos, dentre outras tantas coisas, sobre a diferença entre Cultura Digital e Cibercultura. Liamos as contribuições do Prof André Lemos, Santaella e Rogério da Costa sobre o tema e dessas recaímos no problema do modelo atual de educação em nosso país - Aquele que conhecemos que abarca a velha máxima de “... novas ferramentas, para velhas práticas” ou (“Bolo velho com cobertura nova”)
Minha tristeza deriva do fato de que estávamos juntos, mestrandos e doutorandos, numa sala de aula, numa noite quente de terça feira discutindo sobre conceitos importantes que por certo mudariam a educação no Brasil para melhor, enquanto a realidade das escolas, principalmente no interior de nosso Estado passam por dificuldades de infraestrutura e de saneamento básico.
Computadores sem rede elétrica.
A tristeza dá lugar à raiva quando se pensa na perspectiva monádica das políticas públicas que se encerram em si mesmas e que não ouvem as vozes que vem das ruas e que não saem dos gabinetes para ver a realidade do dia a dia das escolas.
As vezes temos quase que a necessidade de achar um culpado... ai vem o Estado e a sua falta de interesse político para resolver esses problemas. Mas como dizem, 'o buraco é sempre mais embaixo'. E nesse caso, mais em cima... refiro-me ao modelo de desenvolvimento que escolhemos para o nosso país que, na educação principalmente, prioriza e permite a gestão de organismos internacionais que injetam recursos no Governo Federal voltado para esse segmento.
Escolhemos. Permitimos.
Quem paga dá as cartas. E as cartas, nesse caso, podem ser definidas como resultados positivos nos níveis de aprovação - a qualquer custo. Adotamos a política de “alfabetização” invés de “formação”. Pode parecer simples, mas quando se utiliza da noção de alfabetização, essa palavra vem carregada consigo de um contexto equivocado de educação que vem desde a prática jesuítica de catequese .
O equivoco deriva da ideia de que alfabetizar o Brasil significa 'dar, permitir acesso'; Por sua vez dar acesso tem a ver com distribuição massiva; distribuição massiva tem a ver com política das/ para as massas. Os RECNEI'S, LDB's, PCN's obedecem a essa mesma prática: Produção para resultados. Isso me fez lembrar da política dos órgãos de fomento em pesquisa no Brasil a exemplo da FAPESB e CAPES e a busca pela produção e pela 'quantidade' do Lattes.
O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o BM (Banco Mundial), por exemplo, determina quanto e como devem ser aplicados esses recursos em educação no Brasil. O troço é tão 'escroto' (perdoem-me o uso da palavra. Só consegui pensar nela) que cada criança torna-se um dado para bases estatísticas onde sua aprovação representa um valor a ser investido e cada aluno reprovado representa dois números negativos, ou seja, duas vezes menos o valor do recurso equivalente aos aprovados. Daí justificam-se as aberrações que todos conhecemos e a busca desenfreada pela aprovação nas escolas públicas e também em algumas instituições privadas de ensino superior.
O UCA por exemplo, foi atingido por essa prática perversa. Primeiro porque, como disse bem a Professora Bonilla, na concepção política brasileira, 'qualquer coisa' serve para a escola. Os computadores destinados a esse projeto mais parecem processadores de texto e que estão muito aquém da qualidade mínima exigida para o uso em sala de aula. Por certo, esses 'gestores terceirizados' não sabem da potencialidade que as TIC podem oferecer à educação. Nossas políticas públicas, se orientadas por essa prática perversa, são natimortas, fadadas ao fracasso. A não ser que os resultados obtidos até agora, baseados na distribuição, sejam a referência.
E gerações e gerações continuam a carregar esse peso natimorto.
Em outra postagem eu citava um texto do prof. Claudemir Bellintane que discutia sobre o avanço das TIC na sala de aula e o exemplo que ele usou entre os suportes pergaminho e o códice (forma de encadernação). Além de uma fantástica evolução no que se refere a leitura e interpretação dos textos (que não eram mais feito de maneira linear e poderiam ser revistas e comparadas), houve um hiato entre a passagem de um suporte para o outro. E desse hiato de tempo, houveram 'resistências'.
Talvez estejamos ainda passando por esse hiato de tempo entre o suporte físico e o virtual (repito). Mas podemos e devemos mudar a concepção de educação que tanto nos aborrece, entristece e atrasa. Temos hoje acesso à informação e elementos técnicos e conceituais suficiente que por certo nos permitiriam uma ruptura com esse modelo de educação que temos – aquele das velhas práticas. Precisamos, não sei de que forma, romper com essas amarras que nos impedem de produzir qualitativamente cidadãos invés de quantitativamente indivíduos.
Em sua fala, Profª Bonilla dizia que não concorda com a expressão “Inclusão Digital” e que por falta de outra essa é a coletivamente usada por diversos autores e pensadores e serve como uma luva às aspirações e discursos contidos nos documentos oficiais que contemplam nossas políticas públicas em nosso país e de quem as produz.
Talvez a 'negativa' da Profª Bonilla a essa expressão deriva-se do fato de que a palavra 'inclusão' remete a essas práticas perversas e equivocadas; Talvez porque a palavra 'inclusão' também lembra a política de 'alfabetização' e de 'acesso massivo'; 'Incluir' significa, também, tirar de um lugar ou condição e colocar em outro, fazer pertencer a um lugar ou condição que não se pertencia.
É só isso que queremos??? É disso que precisamos? É isso que buscamos??? Não. Mas é isso que temos e também o que produzimos.
Talvez tenhamos que pensar na possibilidade de uma 'Formação Digital' que não signifique apenas fazer pertencer... mas pertencer e dialogar até mesmo criticamente a essa nova pertença. É fazer com que se contribua social e coletivamente. Mas a pergunta persiste: O que estamos fazendo para que isso aconteça?
É claro que não podemos 'jogar fora a criança junto com a água do banho'. É claro que a Cibercultura / Cultura Digital não fará com que se apague tudo de bom que foi feito no passado – e nem é essa a proposta. Mas o certo é que podemos e devemos repensar e resignificar nossas antigas práticas e modelos. Mas essa mudança tem que ser realizada horizontal e verticalmente.
Dai, talvez, as discussões parem de ser mais sobre o novo penteado da atriz famosa e seja mais voltados para um bem (aristotélico) coletivo que diga mais sobre nossas vidas, sobre o nosso futuro e sobre as nossas possibilidades de construção e harmonia coletiva por meio principalmente da educação.