Lembram
do Napster???
Pois
é, quando chegou ao Brasil tornou-se febre entre os que
compartilhavam músicas online. Lembro que corri rapidinho para
comprar um drive com gravador de CD para baixar minhas músicas em
MP3.
Contraventor,
eu???? Deixa quieto.
A
banda Metallica, que eu gosto tanto, encabeçada pelo baterista Lars
Ulrich (nota: apesar desse lapso de insanidade, o miserável toca
muito), entrou com um processo contra a Napster juntamente com o
apoio das grandes gravadoras (Sony e Warner) e fecharam-na. E se me
recordo bem, pegaram dois ou três cidadãos norte americanos "para
cristo" e os processaram para que pagassem alguns mil dólares,
cada um, às gravadoras por terem causado prejuízo ao baixar músicas
ilegalmente. Foram mostrados para o mundo todo como exemplo.
Depois
disso, o lobby aumentou contra os programas 'p2p' de que utilizá-los
seria considerado crime contra o patrimônio - inclusive alguns
tutorias meio suspeitos aqui no Brasil desencorajavam os
usuários alegando que ao baixar uma música na internet vc poderia
estar também trazendo para seu computador 'cavalos de tróia' que
apagariam todo o conteúdo do seu disco rígido e tantas outras
barbaridades.
Eu
vejo atos bem parecidos acontecendo em torno dos chamados software
livre.
O
lobby é imenso. Começa por uma perspectiva ideológica que se
estabelece culturalmente para nós entre o público e o privado (tudo
que é público, que é gratuito, não presta). Mas essa 'ideologia'
é facilmente incutida na maioria dos brasileiros devido ao fato de
que temos exemplo na qualidade precaríssima do serviço público em
geral. Logo, quando se ouve que algo é gratuito, como o software
livre por exemplo, as pessoas se remetem imediatamente a essa
perspectiva e se estabelece, se consolida a ideia de que
sua qualidade é, ao menos, duvidosa.
E tem
mais... A maioria dos equipamentos vendidos hoje como impressoras,
scaners, jogos eletrônicos e tantos outros equipamentos, já vem com
a facilidade do plug and play - funcionando
perfeitamente nos softwares licenciados. E aqueles que
não são plug and play, e que acompanham drives de
instalação em CD, não vem com a opção de instalação de
programas livres. É como um cartel.
Fora
o fato de que a maioria desses equipamentos não fornecem esse tipo
de suporte mesmo online, infelizmente.
Quando
se compra um PC, note, net ou ultrabook no mercado não se tem a
possibilidade de exercício democrático de escolha. A 'vedete' do
momento, o windows seven, já vem instalado de fábrica e a maioria
dos equipamentos adicionais são todos pré instalados dentro desse
mesmo software proprietário.
Na
minha última visita a uma famosa loja daqui de Salvador,
especializada em venda de eletrônicos, questionei do vendedor se ele
não apresenta a possibilidade ao comprador de levar um software
livre pré instalado (ou para instalar) e ele me respondeu,
indagando: "Software Livre? não sei o que é"
Respondi
rapidamente a ele, dando o exemplo do LINUX como software Livre. E
ele retrucou:
"Rapaz,
ninguém quer o Linux. Mesmo porque não presta. O comprador pergunta
logo se tem o Windows instalado. Se não tiver ele paga um pouco a
mais pela máquina que tenha, para não ter trabalho de procurar
instalar programas para usar a impressora, por exemplo. Outra coisa:
tem cliente que não pergunta e dias depois volta com a máquina para
trocar por uma que tenha o Windows. Então as máquinas ficam
encalhadas no depósito. Além disso, aqui na loja, se eu oferecer
uma máquina com o Linux por exemplo, eu estou perdendo dinheiro. O
Sr quer uma máquina com o LINUX ?".
O
colega que estava do meu lado, o real comprador, de forma polida,
educada, respondeu: "Não, Eu não quero essa porra não!".
Lindo.
Se numa frase composta por 7 palavras, três dela são 'não', o que dizer
mais???
Nessa
situação pude perceber que além de desconhecer o que significa um
software Livre, as pessoas tem o Linux, não como tal, mas apenas
como 'um programa que não presta e que ninguém quer'. E reproduzem
isso com extrema facilidade.
Pois
bem. Creio que além de costume, existe também o medo do novo, o de
se (re)adaptar, (re)aprender, (re)instalar e o de (re)conhecer pouco
mais sobre toda a ideologia que envolve o software livre. Sergio
Amadeu no seu livro "Software Livre: A Luta pela Liberdade do
Conhecimento"# , escreve que:
Trabalhar
com os elementos diversionistas que permitam ampliar o medo de
novas soluções, ampliando as dúvidas sobre quaisquer
possibilidades de inovação fora dos limites de seus produtos. Usar
todo o seu poder para explorar o controle que tem sobre o
mercado de sistemas operacionais para manter aprisionados seus
usuários visando controlar o futuro das aplicações [...]Seja
feliz, seja prisioneiro! Este é, no limite, o produto final
da estratégia do medo.
(cap VII, pg
54)
Mesmo
porque a maioria das pessoas que defendem a chamada 'Inclusão'
digital, desconhecem o que trata realmente a política do software livre. Ou
melhor, eu ousaria em dizer que, quem defende a política de
'inclusão' digital e que não defende ou que desconhece tudo que
está por trás e do que preconiza o movimento do/para softwares
abertos, tem apenas um conhecimento superficial do assunto e precisa
rever todos esses conceitos que não podem ser, de jeito algum,
dissociados.