sexta-feira, 1 de junho de 2012

INCLUSÃO (Parte I) OS 'CRISTÃOS NOVOS' E A 'POLÍTICA DO TAMBOR'



Já escrevi antes neste mesmo blog, de forma muito breve, sobre o que acho do conceito de inclusão. Pois bem, estava na sala de aula na semana passada e fiquei muito, mas muito feliz pela forma como a Profª Bonilla conduziu suas observações e críticas sobre a noção de inclusão. Foi ali que percebi que compartilho da mesma ideia, me sentindo, portanto, bem a vontade em apresentar minhas breves observações sobre aquele tema. Então vamos lá.

Você se recorda daquela sua aula de história que versou sobre o processo de colonização no Brasil? Lembra-se da prática dos padres jesuítas? Mais especificamente, lembra-se da noção (missão) que eles tinham sobre alfabetização? A ideia cristalizada de alfabetizar naquela época consistia, também, em estabelecer a língua portuguesa e a inserção religiosa da santa igreja em solo recém-descoberto, para aqueles 'sub-humanos', bárbaros de pés no chão, de pele bronzeada e de bunda de fora.

Alfabetizar significava também estabelecer um solo seguro, cultural principalmente, para o processo de colonização. Alfabetizar naquele contexto propunha a universalização – uma “Educação para todos” (vixe... essa frase eu já vi ou ouvi em algum lugar). Colocavam todos numa sala improvisada e faziam inserções e inferências de uma nova língua àqueles, numa proposição desautorizada de outras formas do saber e do conhecer humano. E tudo isso em prol de uma espécie de sistematização de uma língua padrão. Todos os 'bunda de fora' deveriam ser incluídos.

É necessário que todos sejamos alfabetizados, universalmente, para que a partir daí, se busque os seus próprios caminhos do agora cidadão letrado.

O verbo 'incluir', significa também, tirar de um lugar ou condição e colocar em outro; fazer pertencer a um lugar ou condição que não se pertencia. Tanto na prática catequética de alfabetização indígena pelos portugueses, quanto na construção de uma nova ordem social européia, na época dos contratualistas do Iluminismo, que apresentaram uma prática da inclusão adotada pelo Estado de direito aplicados de forma tendenciosa para proteger a aristocracia inglesa.

A inclusão, como se tem conhecimento hoje no Brasil não foge a essa regra. Tornou-se verbo de conjugação fácil e de uso comum na nossa prática política. O modelo de sociedade e de desenvolvimento que escolhemos e alimentamos coaduna com a prática do verbo incluir. Servem como base de sustentação de projetos hediondos non sense que apenas demonstram com clareza o nosso total despreparo no agir e gerir tudo aquilo que é público.

'Inclusão' é para o governo brasileiro um ato de constante benevolência construídos e constituídos horizontalmente para os novos 'bundas de fora'; são edificações cimentadas sob o lodo; são projetos pensados como estratégias para perpetuação político partidária; Incluir é tornar cidadão; é tirar da rua; é conceber direitos; Incluir é o politicamente correto; é tornar ativo politicamente e economicamente; Inclusão é a ação e\ou conjugação de um verbo sem qualquer direção, sem qualquer norte; incluir é dar o pertencimento a alguém; é uma forma de tirar a miséria do campo de visão dos emergentes; inclusão é tornar invisível.

Inclusão é o alfabetizar universal; é a (re)construção do Estado de direito (liberal) ministrando placebo para uma legião de doentes terminais; é trazer uma falsa esperança para quem dela depende.

A política brasileira se apropriou da noção de inclusão, como ferramenta essencial, como base sólida para a construção de políticas públicas que encerram-se em si mesmas. Afinal, o que seria dos projetos que brotam como água dos gabinetes se não fosse a 'inclusão'? O que seria da retórica do palanque se não fosse a esperança contida nesta palavra? O que seria da prática política panfletária???

A educação é o seu alvo principal. As políticas públicas de inclusão dão as chaves dos cofres públicos ao Terceiro Setor para a promoção da Cidadania através de projetos como, por exemplo, os da “Política do Tambor'. Sim, aqueles que prometem tirar crianças e adolescentes das ruas garantindo o seu futuro no mercado de trabalho através da música, aqui em Salvador. Não se nega o valor sociocultural dessas Ong's e nem se pode esconder que um ou outro cidadão chega a exercer a sua profissão de músico. Mas a enorme maioria daqueles esperançosos tornam-se excesso de contingente são a mão de obra excedente. Resultado: voltam às ruas.

Foram apenas 'alfabetizados' musicalmente.

'Incluir', para o nosso governo, é alfabetizar. A preocupação é torná-los 'cristãos novos'. O objetivo não é oferecer uma formação que dê chance de competitividade e/ou formação de cidadãos com uma consciência política e atuantes na sociedade... Não se importam nem com o processo e nem com o 'day after' e sim com a implantação dessas políticas que possam figurar a sua propaganda partidária nas fotos e filmagens da entrega, com pompa, do canudo com laçarote vermelho e sem conteúdo.

O processo de 'inclusão' é, portanto, na mesma medida, promotora de exclusão.